quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Germinação e Dormência em sementes



A germinação é o processo que inicia com a retomada do crescimento pelo embrião, desenvolvendo-se até o ponto em que forma uma nova planta com plenas condições de nutrir-se por si só.
Fases da germinação:
1. Embebição ou reidratação das sementes – a água penetra através do tegumento e hidrata os tecidos embrionários e os tecidos de reserva. As células do embrião reassumem o tamanho e a forma que tinham antes do dessecamento (que ocorre durante o amadurecimento da semente) e também a atividade metabólica.
2. Mobilização de reservas – a semente possui enzimas em estado latente, isto é, que podem ser ativadas pela presença de água. Estas enzimas digerem as reservas - quebram moléculas de alto peso molecular em moléculas menores, absorvíveis pelo embrião. Assim, ocorre conversão de carboidratos (amilases transformam amido em glicose), lipídios (lipases convertem ácidos graxos em glicerol) e proteínas (proteinases transformam proteínas em aminoácidos). Estas moléculas são então assimiladas pelo embrião, iniciando sua transformação em plântula.
3.translocação de nutrientes – as micromoléculas,resultante da hidrólise,são translocadas de célula a célula para atender á demanda dos sítios ativos de crescimento do eixo embrionário,como a plúmula e radícula. A principal substância de tranlocação é  sacarose.
4. Assimilação de nutrientes e crescimento do embrião – o amido é a principal substância de reserva, consistindo em 70 a 80% da matéria seca da semente. Durante a maturação da semente, o amido é depositado em plastídios denominados amiloplastos, os quais formam os chamados “grãos de amido”. O amido é então quebrado em moléculas de glicose e frutose, as quais são utilizadas na respiração do embrião e na síntese de novas moléculas e estruturas celulares, levando ao seu crescimento. Os lipídios e aminoácidos resultantes da digestão enzimática também são utilizados na respiração e crescimento do embrião.

































A semente é uma estrutura na qual um embrião, em geral, totalmente desenvolvido é disperso. Esta estrutura permite ao embrião sobreviver no período compreendido entre a maturação da semente e o estabelecimento da planta, iniciando a próxima geração.
Há diversos mecanismos que controlam a germinação das sementes, dentre eles o mais expressivo é a dormência. Embora a dormência ocorra mais frequentemente em sementes tolerantes a dessecação as chamadas ortodoxas, há registros também em sementes que precisam manter elevado teor de água, ou seja, as recalcitrantes.

v  Semente quiescente: uma semente quiescente germinará em um período curto, produzindo uma plântula, desde que não haja restrições do meio.

v  Semente dormente: sementes que não germinam, mesmo quando colocadas em condições ambientais favoráveis.


A dormência é causada pó um bloqueio à germinação situado na própria semente, ao contrário da quiescência que é provocada pela ausência ou insuficiência de fatores externos necessários à germinação.
Em síntese, tendo-se uma semente viável em repouso, por quiescência ou dormência, quando são satisfeitas uma série de condições externas (do ambiente) e internas (intrínsecas do indivíduo), ocorrerá o crescimento do embrião, o qual conduzirá à germinação. Por isso, do ponto de vista fisiológico, germinar é simplesmente sair do repouso e entrar em atividade metabólica.
Atualmente são reconhecidas duas modalidades de dormência:

v  Dormência primária: Instala-se durante a fase de maturação (a semente já é dispersa em estado dormente). Além de impedir a germinação precoce da semente, ela previne a germinação de todas as sementes ao mesmo tempo.

v  Dormência secundária: Instala-se em uma semente quiescente, quando esta se encontra em um ambiente desfavorável para a germinação ou em condições de toxicidade. A dormência secundária pode ser atenuada, desde que as condições ambientais permaneçam favoráveis.


Mecanismos de dormência: A dormência pode ser classificada em 2 grandes grupos: endógena e exógena.

v  Dormência endógena: Também chamada de dormência embrionária, causada por algum bloqueio à germinação relacionado ao próprio embrião. E pode ser dividida em:
1.      Dormência fisiológica: mecanismos inibitórios envolvendo os processos metabólicos, e também tecidos e estruturas adjacentes. O bloqueio á germinação se localiza nas estruturas do embrião.

2.      Dormência morfológica: relaciona-se com as sementes, onde o embrião não se desenvolveu completamente.

3.      Dormência morfofisiológica: dormência fisiológica em embrião com dormência morfológica (combinação de bloqueios).

v  Dormência exógena: Dormência extra-embrionária é causada primariamente pelo tegumento, endocarpo, ou órgãos extraflorais. E pode ser:
1.      Dormência física: causada pela impermeabilidade dos tecidos da semente, restringindo a difusão de água e oxigênio ao embrião.

2.      Dormência química: causada por inibidores do crescimento, que são substâncias produzidas, tanto dentro como fora das sementes, que trasnlocadas para o embrião inibem a germinação.

3.      Dormência mecânica: apresenta uma rigidez no endocarpo ou no mesocarpo, que impedem a expansão do embrião.

Significado ecológico da dormência

A dormência evoluiu como um mecanismo de sobrevivência da espécie para determinadas condições climáticas.
     Ex: regiões de clima temperado a maior ameaça é o inverno, se elas germinassem no inverno estariam vulneráveis e a espécie seria extinta. O nível de dormência pode variar entre sementes de uma mesma população permitindo que algumas germinem no primeiro ano, outras no segundo e assim por diante, desse modo forma-se um banco de sementes no solo. No caso da derrubada da vegetação, a regeneração pode iniciar-se a partir do banco de sementes.

Principais métodos para a quebra da dormência em sementes:

v  Agentes mecânicos: Tegumentos rígidos
Escarificação:que pode ser mecânicas,feita com meterias cortantes,ou abrasivas feita com lixas.


v  Temperatura: é chamada estratificação, é a exposição da semente hidratada a temperaturas baixas ou altas. Quanto mais madura a semente, maior o grau de dormência, requerendo um período de estratificação mais longo. A estratificação pode se dar também em condições naturais, como por exemplo, no inverno,quando as sementes são expostas há vários dias em baixas temperaturas,tem sua dormência quebrada, vindo a germinar no inicio da primavera, ou expostas a um calor intenso, como nas queimadas.

v  Lixiviação: lavagem de inibidores crescimento presentes na semente, e pode ocorrer também em condições naturais como nas chuvas torrenciais e no laboratório deixando as sementes em água corrente antes de colocar para germinar.

v  Agentes químicos: o tempo em que às sementes ficam expostas ao efeito corrosivo do ácido varia de acordo com a espécie. Usa-se ácido sulfúrico, hipoclorito de sódio, ácido nítrico, etanol, água oxigenada.

v  Luz: O pigmento fitocromo, tem sido considerado o principal agente envolvido na percepção do sinal luminoso, que induz a germinação. O fitocromo promove a síntese de giberelinas, que atuam no silenciamneto dos genes envolvidos na manuntenção da dormência e promovem a síntese de enzimas envolvidas no enfraquecimento dos tegumentos.




Débora de Oliveira Prudente

Referências bibliográficas:

Produção de sementes e mudas florestais/editores :Antônio Cláudio Davide, Edivaldo Aparecido Amaral da Silva- 1° ed- lavras. Ed UFLA;2008 175 p.

Sementes florestais: colheita ,beneficiamento e armazenamento. Cláudio Monte de Sena, Maria Auxiliadora Gariglio, Natal: MMA  secretaria de biodiversidade e florestas. Departamento de florestas,programa nacional de florestas. Unidade de apoio de PNF no nordeste,2008,28 p.

Germinação do básico ao aplicado,Ferreira e Borgethi,2004.

Imagens:






quarta-feira, 7 de julho de 2010

FUNGOS MICORRÍZICOS ARBUSCULARES EM ÁREA DE MATA CILIAR

A mata ciliar, por margear rios, córregos e lagoas, traz uma série de benefícios  para o ecossistema em si, como as interações de co-existência entre plantas e animais; para os organismos aquáticos, estabelecendo uma série de características que mantém as condições ideais para a sobrevivência dos mesmos e para população humana, trazendo benefícios à nossa saúde e economia.
       A mata ciliar é de extrema importância para manter o fluxo gênico vegetal, trazer abrigo e transporte para a fauna, servindo como fonte de alimento e esconderijo para diversas espécies animais. Também é fundamental para o controle de voçorocas, inibindo o processo de erosão, pois retém nutrientes evitando a lixiviação dos mesmos através de pancadas de chuvas e aumenta a quantidade de absorção de água, melhorando as condições e a qualidade do solo. A mata ciliar age como uma barreira natural de resíduos, protegendo os corpos d`água, impedindo o escorrimento de agrotóxicos em excesso pelo mau manuseamento de terras agrícolas, evitando poluição de águas que chegam aos centros urbanos.
       Desde a antiguidade, o homem vem se ocupando às margem dos rios, manuseando a terra de forma insustentável, aos poucos, tomando a vegetação ciliar para construção de casas, para consumo e renda através da agropecuária. Esses acontecimentos, preocupam muitos cientistas hoje em dia interessados em estudar como diminuir o impacto causado por essa degradação sem recuperação e restauração da floresta ciliar. Muitas espécies vegetais se associam mutualisticamente à fungos micorrizos arbusculares, à qual traz vantagens para ambos os organismos, em que a planta ganha rapidamente nutrientes fornecendo um rápido crescimento e o fungo proteção e abrigo. Isto interessa a vários pesquisadores pois essa associação, apesar de dados escassos, está relacionado de forma positiva na regeneração da mata, promovendo o fluxo gênico das espécies nativas, a fim de promoverem o estágio de sucessão e chegar à uma biodiversidade semelhante à da floresta original.
       Carrenho et al (2000), coletou amostras de solo rizosférico de Croton
urucurana Baill (CB)pioneira., Inga striata Willd(IsW).secundária inicial e Genipa americana L.(GaL)clímax, para avaliar o comportamento de fungos micorrizos. 22 espécies de fungos foram encontrados.
       Os números totais de esporos foram de 85 para CB, 212 para IsW e 511 para GaL em 100 g de solos da rizosfera coletada. Os esporos quantificados no primeiro levantamento variaram de 6 a 29 em 100g de solo, um valor relativamente menor que no segundo levantamento. Carrenho et al(2000) explica que a diferença está relacionada à biomassa radical, pois os fungos após o crescimento das plantas, encontraram maiores possibilidades de colonização.
      Nos resultados, é possível notar que a quantidade de esporos é menor na espécie pioneira, e cresce progressivamente até a espécie clímax. Esse comportamento da esporulação pode ser explicado à medida que o volume de raízes aumenta, da espécie pioneria à clímax, aumenta o número de iscagem e colonização pelos fungos.
      A diversidade das espécies de fungos pode ser explicada pelo aumento da biodiversidade vegetal, que em trabalhos anteriores na mesma área, constataram menores quantidades de espécies de fungo. Outros trabalhos recentes demonstram que quando as espécies de fungos micorrizos aumentam, há também um aumento da diversidade de plantas, a captura de nutrientes minerais e a produtividade do ecossistema acarretando numa composição florestal melhor estruturada e complexa.  




Felipe de Carvalho

Referências:
           
 Carrenho, R.; Trufem, S. F. B.; Bononi V. L. R..; FUNGOS MICORRÍZICOS ARBUSCULARES EM RIZOSFERAS DE TRÊS ESPÉCIES  FITOBIONTES INSTALADAS EM ÁREA DE MATA CILIAR REVEGETADA.; Acta bot. bras. 15(1): 115-124. 2001


Imagens:
http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/meio-ambiente-mata-ciliar/
http://professores.unisanta.br/maramagenta/Imagens/FUNGO/Micorrizas.jpg

terça-feira, 6 de julho de 2010

UM BREVE RESUMO SOBRE A DISPERSÃO DE SEMENTES

O estudo da dispersão de sementes se consiste na análise dos mecanismos e meios utilizados pelas plantas para que seus diásporos alcancem os locais onde novas gerações podem ser estabelecidas. Uma vez maduras, as sementes precisam ser libertadas da planta-mãe e disseminadas de modo eficiente, para garantir a sobrevivência da espécie, evitando que haja acúmulo de descendentes nas proximidades da planta mãe em uma área muito pequena.
Para o sucesso da dispersão as sementes precisam chegar a locais favoráveis ao seu crescimento, em geral distante da planta mãe, pois nas proximidades desta a competição é intensa e o risco de morte por patógenos ou insetos herbívoros é maior.
Para justificar a necessidade da distância e sucesso da dispersão foram criadas 3 hipóteses:
- Hipótese do escape: implica no sucesso desproporcional para sementes que escapam das proximidades da arvore mãe, quando comparadas com aquelas que caem perto. Essa hipótese sugere que a mortalidade dependente de densidade das sementes e das plântulas perto da árvore parental poderia ser devido à predação por insetos e roedores, ataque de patógenos, competição entre plântulas, como também pelos predadores de sementes que procuram por alimento somente nas proximidades da árvore parental, ignorando as sementes e plântulas a poucos metros de distancia (hower e smallwood, 1982)
- Hipótese da colonização: assume que os ambientes se alteram e que a dispersão, no espaço e tempo, pela árvore parental permite produzir diásporos que apresentam vantagens em habitats não competitivos quando estes são abertos. Assim, o objetivo principal de um indivíduo seria disseminar suas sementes, de forma que algumas irão encontrar habitats com condições favoráveis ao seu estabelecimento, ou esperar no solo ou sub-bosque até uma clareira, fogo, corte ou qualquer outro distúrbio permita que as plântulas se estabeleçam e cresçam ( howe w smallwood, 1982)
- Hipótese da dispersão direta: assume que determinados animais levam as sementes para habitats determinados, não aleatórios, onde as condições para o estabelecimento e crescimento são favoráveis. Um bom exemplo são as formigas que carregam as sementes para seus ninhos, onde as condições do solo seriam adequadas para o estabelecimento das plântulas (howe e smallwood, 1982)
A relação mutualística entre planta-animal é resultado de uma coevolução (Fenner, 1985) que possibilitou que ambos os seres vivos envolvidos nesse processo fossem beneficiados.
Diferentes agentes estão envolvidos no processo de dispersão, como vento, água e diferentes grupos de animais, sendo denominadas como anemocóricas, hidrocórias e zoocóricas, respectivamente. Espécies que dispersão por meio de mecanismos de explosão são denominada autocóricas.
A maioria das espécies vegetais da flora neotropical, cerca de 90%, produz frutos carnosos adaptados à atração de animais dispersores, zoocóricos. A zoocoria ainda pode ser dividida em 3 categorias dependendo da forma em que a semente é dispersada:
- Endozoocoria: quando a dispersão se faz através da ingestão e posterior liberação do diásporo;
- Sinzoocoria: quando os diásporos são carregados, principalmente na boca;
- Epizoocoria: quando os diásporos são carregados acidentalmente, principalmente presos aos pelos.
Diversos tipos de animais fazem a dispersão, desde pequenos invertebrados até grandes mamíferos. De acordo com o tipo de animal dispersor a dispersão pode ser denominada:
- Mirmecocoria: dispersão feita por formigas. Neste caso as sementes contém uma substância oleosa que atrai as formigas.
- Ictiocoria: feita por peixes, geralmente pacus, tambaquis ou piracanjubas que comem os frutos de árvores a beira do rio que caem dentro da água.
- Saurocoria: efetuada por repteis vegetarianos, tais como tartarugas e alguns lagartos;
- Ornitocoria: é a dispersão efetuada por aves, Geralmente feita por endozoocoria. As aves têm olfato muito fraco, sendo primariamente animais visuais. A resposta das plantas a essas características é apresentar diásporos com parte comestível atrativa, proteção externa contra deglutição prematura, uma porção interna contra a digestão da semente, cores chamativas quando maduro, ausência de cheiro e ausência de casca fechada e dura.
Podem ocorrer ainda casos de mimetismo, em que a semente de testa dura assume coloração chamativa, como se fossem frutos comestíveis. Esse mecanismo engana os pássaros mais jovens que comem e posteriormente defecam as sementes intactas;
- Mamaliocoria: dispersado por mamíferos. Os diásporos são semelhantes aos das aves ocorrendo em muitos casos a possível dispersão pelos dois tipos.
- Quiropterocoria: dispersão realizada por morcegos. Por serem noturnos, cegos para cores e terem olfato aguçado, geralmente os frutos consumidos por morcegos são grandes e pardacentos, com um odor forte.
A distância da dispersão varia muito dependendo do relevo e da intensidade do vento no caso da dispersão anemocórica e do tempo em que os animais mantêm as sementes consigo. Neste caso, sementes que são regurgitadas são depositadas rapidamente, enquanto que as sementes que passam pelo trato digestivo podem passar minutos, horas, dias ou ate meses dentro do animal até serem dispersas.
A dispersão tem um papel fundamental no padrão de distribuição espacial de espécies vegetais tropicais. Estudos feitos por Levine e Muller em 2003, revelaram que espécies anemocóricas apresentam-se menos agregadas do que espécies zoocóricas. Isso se deve ao fato de que a dispersão anemocórica acontece aleatoriamente e a zoocórica é tendenciosa, isso porque os animais procuram sempre locais com alimentação farta ou árvores isolada na paisagem, no caso de aves onívoras, que usam essas arvores para forragear insetos (Yarranton et al, 1974),. Assim podemos dizer que, no caso da zoocoria, a distribuição espacial das espécies vegetais está diretamente ligada à preferência das aves por locais com abundância de alimento ou pontos estratégicos de caça. 



Daniel Teixeira


imagens : http://veja.abril.com.br/especiais/amazonia/p_030.html 
                  http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/ecologia-e-meio-ambiente/aliados-pela-sobrevivencia/
             http://www.birds-caatinga.com/port/species/aratinga_cactorum_00.html
             http://recicleblog.blogspot.com/2009/05/morcegos-e-dispersao-de-sementes.html